“Ela acompanha-me desde cedo, a ansiedade. Durante anos, nunca consegui compreendê-la, o porquê de ir comigo para todo o lado, o porquê de me bloquear, de me limitar. Só sentia o desconforto constante que ela causava e tentava afastá-la de mim a todo o instante. O meu objetivo principal era viver sem ela.
Diariamente ouvia-a dizer-me o quanto o mundo era perigoso e o futuro incerto, o quanto as pessoas eram más, e tudo aquilo que elas pensavam de mim, coisas más, claro. Acreditei na ansiedade durante anos e anos e ela foi ganhando essa luta constante. Ela venceu-me pelo cansaço e dominou a minha vida. Comecei a ter cada vez mais medo e desconfianças, isolei-me cada vez mais, descartei novos desafios e oportunidades, com medo. Tudo isto porque a ansiedade me acompanhava e me dissuadia de avançar. O pior cenário estava sempre na minha cabeça, e muitas vezes impedia-me não só de arriscar na vida, mas até mesmo de realizar os objetivos mais simples, como ir às compras, ou passear, ou até dormir…
Eu acreditava nela. Na verdade, não tinha motivos para não acreditar, ela só me queria proteger. Havia dias de coragem, onde eu tentava lutar com ela, mais uma vez, lutava contra os pensamentos e sentimentos, obrigando-os a ir embora. Mas na verdade, eles só voltavam mais fortes. A cada luta, a ansiedade ganhava mais poder sobre mim.
Um dia, esgotada de lutar. Decidi pedir ajuda psicológica.
Foi muito difícil tomar esta decisão, porque na minha cabeça estava a ideia de que nada nem ninguém me conseguia ajudar, eu já tinha tentado tudo… À medida que as sessões passavam, fui aprendendo mais sobre esta companheira de longa data, sobre o que ela me estava a tentar dizer, sobre o que ela me fazia sentir. Conheci-a finalmente e comecei a olhar para ela com outros olhos, deixei de acreditar nas suas palavras e a ver a realidade com outros “óculos”, com uns filtros mais positivos, mais realistas. Percebi também que querer que ela vá embora é a pior coisa que posso fazer, porque é algo que para mim também não seria positivo, então esse deixou de ser o meu objetivo.
Agora, somos finalmente amigas, andamos de mão dada, lado a lado. Ela não foi embora, apenas deixou de me incomodar e magoar. Agora sei lidar com ela e percebo que tenho o controlo sobre a minha vida.”