Os perigos da internet explicados

A internet revolucionou muitas áreas da nossa vida. O número de utilizadores tem continuado a crescer, bem como o intervalo de idades dos mesmos. Através dela podemos aceder a uma vasta gama de serviços que realmente vieram facilitar a nossa vida. A partir de um pequeno dispositivo, em segundos, temos acesso a música, filmes, informação, podemos fazer as compras de casa, obter direções. A internet permite desafiar qualquer distância com apenas um clique, permite que tenhamos em poucos minutos uma refeição quente do nosso restaurante favorito. Apesar da sua utilidade evidente, têm surgido algumas dúvidas acerca do balanço custo/benefício. O seu uso problemático tem-nos mostrado um lado negro desta ferramenta.

Apesar da internet parecer algo dos “tempos modernos”, já em 1995 começavam a ser estudados os perigos da mesma por uma psicóloga chamada Kimberly Young que se dedica desde aí à temática das adições à internet e do comportamento online. Neste artigo vamos abordar alguns dos perigos associados ao uso excessivo/mau uso da internet.

Cyberbullying

Todos nós já ouvimos falar de bullying, e provavelmente muitos de nós já presenciaram algum tipo de manifestação do mesmo. Com a maior utilização da internet, nomeadamente das redes sociais, esta tornou-se uma via para agressões e manifestações violentas. A via online traz “benefícios” para o agressor, uma vez que o distanciamento físico permite uma maior desinibição por parte dos agressores. Pode parecer algo com pouca relevância, mas quando olhamos para os números percebemos que as denuncias de cybercrime têm vindo a aumentar nos últimos anos. As consequências para as vítimas são inegáveis. Tal como qualquer tipo de violência, esta provoca na vítima emoções negativas de alta intensidade como a tristeza, desespero e raiva, podendo levar ao suicídio. Já tendo sido relatados vários casos em que a continuidade dos abusos culminou em suicídio.

Estes ataques podem ter diferentes formas, entre os quais:

Perseguição ou assédio onde a vítima é repetidamente atacada através de e-mails, publicações ou sms’s. Ou seja, através de redes sociais ou vias privadas;

Roubo de identidade onde o agressor se faz passar por outra pessoa, publicando conteúdos em nome dela;

Violação de intimidade onde informação pessoal textos ou fotos privadas são publicadas sem permissão;

Difamação onde são apresentadas informações tendenciosas acerca de uma pessoa;

Happy slapping que diz respeito à publicação ou partilha de um vídeo de um episódio de agressão ou humilhação;

Flaming onde são trocadas ofensas normalmente perante muitas pessoas.

Consumo pornográfico

A expansão da pornografia deveu-se bastante à facilidade de acesso à mesma, facilitada pela internet. Os sites pornográficos são acessíveis, gratuitos e construídos de forma a aliciar a sua utilização através de publicidades pop-up, por exemplo. Em 2001 existiam cerca de 70 mil sites e em 2017 mais de 76 milhões. Sendo que se estima que diariamente surjam 266 novos sites. A visualização continuada destes recursos tem um grande impacto no rendimento académico e profissional e social – relações significativas com amigos e família.

Os dados disponíveis mostram que a idade em que os jovens têm contacto com conteúdos pornográficos na internet ronda os 13/14 anos para rapazes e raparigas. É praticamente impossível monitorizar se as crianças têm acesso a estes conteúdos, uma vez que existe uma grande liberdade de pesquisa e como já referimos, facilidade de acesso. Talvez seja importante, em vez de proibir de alguma forma, aumentar a informação. Parece contraditório, mas nos EUA já são lecionadas aulas de “literacia em pornografia”, como um complemento da educação sexual. O beneficio do aumento de informação ajuda a prevenir as consequências nefastas da visualização destes conteúdos pelos jovens, por exemplo, as dúvidas acerca do que é ou não “normal”, qual é o “tamanho indicado” do pénis, expectativas acerca da responsividade feminina, dúvidas de quanto tempo deverá durar uma penetração sem atingir o orgasmo… Preocupações e dúvidas que surgem da dificuldade de jovens pouco informados e inexperientes não distinguirem a realidade dos conteúdos apresentados pelos atores pornográficos.

Redes sociais

Um marco histórico para o crescimento das redes sociais foi a criação do Facebook em 2004. A rede social com mais sucesso e mais utilizadores que existe. As redes sociais mantêm os utilizadores em contacto permanente e parecem aumentar a necessidade desse mesmo contacto. As pessoas foram moldadas ao longo dos anos para a necessidade de estar online, atualizadas, em contacto. As pessoas parecem comunicar cada vez mais, mas referem cada vez se sentirem mais sozinhas, cada vez mais isolamento e solidão. Então o que está errado? Provavelmente, má comunicação pouco eficaz que não satisfaz as necessidades dos intervenientes. Por outro lado, as notificações constantes parecem ter um efeito nocivo na nossa produtividade e concentração mudando o nosso foco sempre que o telemóvel apita a relembrar-nos que existem “novidades”. E ainda, a exposição da vida pessoal dos demais parece também ter uma influencia no aumento da ansiedade e sintomatologia depressiva à medida que observamos a felicidade, riqueza, diversão, em imagens manipuladas de vidas e corpos perfeitos. Quando comparamos as imagens que vemos com a nossa vida “normal e aborrecida” surge o sentimento de frustração.

As imagens e informação que vemos na internet são muitas vezes falsas ou deturpadas, não podemos fazer nada para o contrariar, contudo, tal como referimos acima, podemos informar as crianças e alertá-las para esse facto, ensinando-os a selecionar informação e a ser críticos.

Por fim existem outras plataformas de publicação de conteúdos multimédia, nomeadamente vídeos que têm ganho destaque nos últimos anos. Existem três principais dificuldades associadas a estas plataformas:

-Quantidade de tempo despendido na visualização de vídeos;

-Contacto com conteúdos muitas vezes assustadores e geradores de ansiedade (normalmente em crianças mais jovens);

-A ideia de ser “youtuber”, que na mente da maioria dos jovens surge como “poder ser famoso e rico de uma forma rápida e fácil”.

Videojogos

Tal como os conteúdos que mencionei atrás, os videojogos têm sofrido uma grande evolução e crescimento. É um foco central a nível da industria das novas tecnologias e responde à necessidade humana de procurar fontes de entretenimento.

O grande problema dos videojogos é que facilmente se tornam aditivos. O maior problema surge quando as características dos videojogos (gráficos, qualidade de som, realismo, possibilidade de competição online…) com as vulnerabilidades dos jogadores (necessidade de sensações intensas, falta de competência percebida noutras áreas, necessidade de prazer imediato…), aumentando a probabilidade de surgir problema de adição.

Quando isso acontece, o videojogo torna-se o único interesse do jovem, um foco obsessivo e exclusivo, o tempo de jogo é aumentado, pode ocorrer a perda de ligações com amigos e família, necessidade de mentir acerca do tempo decorrido a jogar, explosões de raiva e interferência em outras áreas. A maior necessidade nestes casos específicos é a substituição dos videojogos por alguma atividade mais enriquecedora.

Em suma, a internet chegou para ficar, e ainda bem, uma vez que os benefícios são imensos e em vários aspetos, a internet revolucionou e facilitou a nossa vida. No entanto, é importante refletir criticamente acerca do uso excessivo e negativo das tecnologias e da internet. Devemos também lembrarmo-nos que estas dificuldades não afetam somente os jovens, como muitas vezes é referido. Em poucos anos, a sua utilização foi globalizada e os aparelhos eletrónicos passaram a fazer parte de nós, quase como uma extensão do próprio corpo. O facto de, para nós adultos, ser muitas vezes impensável passar um dia sem telemóvel, mostra que talvez sejamos mais dependentes do que queremos admitir.

%d bloggers gostam disto: