A maioria das crianças e jovens tem uma relação saudável com a sua família: há apoio, amor, respeito, compreensão, contudo nem todas as famílias funcionam assim, como seria ideal. É comum ouvirmos histórias de maus-tratos infantis, de pais que batem nos filhos, de professores que maltratam os seus alunos, de educadores que negligenciam. Contudo, com alguma frequência o oposto acontece: os pais são as vítimas. Este facto é percetível no relatório anual da Associação Portuguesa de Apoio à Vítima de 2018, onde podemos perceber, ao analisar o perfil de 9344 vítimas de violência, que 7,5% eram pais do agressor(a).
Seja quem for o alvo das agressões, outra criança ou um adulto, o padrão comportamental das crianças “agressoras” é comum, estas batem, empurram, dão pontapés, não cooperam, são egoístas, muitas vezes dão ordens, são desobedientes, desafiadoras, mas mais o importante, a questão central: não controlam as suas emoções ou não as expressam de forma ajustada.
No que diz respeito à agressão para com os pais, existem vários tipos de maus-tratos, os que causam danos através de ameaças ou agressões, os que usam os pais como meio para atingir um fim pela utilização da chantagem e os maus-tratos através da demonstração de indiferença e desapego.
O que fazer para contrariar estes comportamentos?
Sabemos que a tendência natural das crianças é a de tentar impor a sua vontade, daí a necessidade de regras claras e de consequências adequadas.
Por outro lado, muitas vezes a reação a estes comportamentos, leva os pais ao cansaço e frustração, a que eles próprios se descontrolem e tenham reações que podem reforçar estes comportamentos, que mostrem que “o descontrolo é natural” e que “é assim que se deve reagir”.
Há uma grande necessidade de educar as crianças para os seus direitos mas não esquecer de os educar também para os seus deveres. Fazer o papel de pais, enquanto elemento de autoridade é essencial. Muitas vezes, os pais deparam-se com a necessidade de “fazer as vontades” ou ceder perante os filhos para os compensar da falta de tempo que lhes podem dispensar ou até mesmo para evitar discussões e birras. Contudo, o papel dos pais é também a educação, o ensino das regras essenciais e do nosso papel na sociedade.
A nível mais emocional, é fundamental ajudar a criança desde cedo a reconhecer as suas emoções e a identificar as emoções negativas, como a raiva, de modo a controlar os seus comportamentos mais impulsivos. Ao ensinarmos às crianças a gerir as suas emoções e a manter a calma em situações cruciais podemos contribuir para a diminuição dos comportamentos agressivos.
Quais os passos?
1. Começar por identificar as circunstâncias em que se irrita. Ensinar que, por vezes, a raiva ou a frustração surgem quando não se tem o que se quer, e que estas emoções, mesmo que sejam negativas, surgem naturalmente. Ensinar também que nem sempre se pode ter tudo o que se deseja: por vezes as coisas demoram, outras vezes nem sequer surgem e que isto faz parte da vida de todos nós. Estas noções podem ser treinadas através de jogos, ao discutir e reconhecer as derrotas.
2. A necessidade de parar antes de agir. Estimular a criança a identificar quando estas emoções surgem, e aí, quando se aperceber que os sentimentos aumentam, tentar afastar-se para se acalmar com vista a não agir impulsivamente.
3. Analisar a situação depois de se acalmar, através da comunicação. Pode ser questionado: quais os sentimentos (raiva, frustração, fúria, irritação…) que surgiram, se existem soluções melhores/formas de resolver o problema sem ser através da violência, identificar novas formas de agir e quais as suas consequências.
4. Análise das alternativas em função das consequências e escolha da mais benéfica. É muito importante desenvolver a capacidade de comunicação e de resolução de problemas por parte da criança, analisando as situações, fazendo a introspetiva das suas emoções, avaliando as perspetivas dos outros, antecipando as consequências dos seus atos. Este treino vai-lhe permitir ter comportamentos mais ajustados e expectativas mais realistas das possíveis consequências.