Parece haver uma necessidade cada vez maior dos pais tentarem ser amigos dos filhos. Isto acontece numa tentativa de estabelecer uma relação mais próxima, mas também de algum controlo, numa tentativa de aumentar a partilha no núcleo familiar. Mas até que ponto é que esta relação tão próxima é saudável para o desenvolvimento do próprio enquanto ser autónomo? Este debate já dura há muito, e as opiniões diferem. Contudo, todos concordamos: a tarefa de educar é dificílima e não existem pais perfeitos.
Quando os pais dos adolescentes de hoje eram crianças, a relação entre pais e filhos era bastante diferente na maioria dos lares: os pais eram rígidos, a educação rigorosa, as regras inquestionáveis e os castigos muitas vezes físicos. Nos últimos anos, tem havido uma mudança de paradigma, surgindo assim uma nova forma de educar as crianças, baseada na flexibilização das regras, no aumento das regalias e diminuição da punição física. O principal objetivo seria a educação ser feita com base numa relação próxima, tendo o diálogo um papel central.
Anos depois, uma das críticas a essa forma de educação refere-se ao desenvolvimento de uma atitude por parte dos jovens de desobediência, falta de respeito pelos pais e professores enquanto figuras de autoridade… Então, coloca-se a questão: qual a melhor forma de educar?
Sabemos que o diálogo, sem qualquer dúvida é a melhor forma de resolver conflitos, seja entre pais e filhos ou em qualquer outra situação. O problema surge quando há uma falta de equilíbrio entre a educação e a criação da relação aberta que falamos anteriormente. Conclusão: os limites e papeis deixam de estar definidos, os pais que teriam o papel de educar, proteger e orientar o crescimento ficam assim no mesmo patamar de poder que os seus filhos. Os pais “modernos”, com vista a conquistar esse relacionamento próximo, foram pondo de lado o seu papel de educadores, deixando de ser o elemento com mais poder no núcleo familiar e deixando de estabelecer as regras necessárias ao pleno desenvolvimento do sujeito e da própria família enquanto sistema, pensando que seria essa a forma mais correta de desenvolver a tal relação que tantos aspiram.
Como estabelecer, então, uma relação com o seu filho sem comprometer a sua autoridade? Não é necessário ter uma atitude distante e rígida para obter respeito e educar o seu filho, é sim, necessário estabelecer regras, flexíveis o suficiente, nunca descorando o mais importante: os pais é que têm o poder nesta relação.
O estabelecimento de regras deve ser feito desde muito cedo para que as crianças as interiorizem e sigam essa forma de funcionamento. É Importante ter em conta que deve haver um meio termo entre a flexibilidade e rigidez das regras, ou seja, estas devem ser realistas, em primeiro lugar, e fáceis de serem cumpridas. Haverá sempre tentativas, por parte da criança, do não cumprimento dessas regras, sendo necessário reforçar o cumprimento dessas (Ex.: a criança/jovem tem de fazer a cama quando se levanta: elogiar sempre que faz essa tarefa de forma a reconhecer o esforço). É também importante perceber que os pais são um modelo, e por isso devem dar o exemplo, ou seja, não vamos mandar as crianças comer a sopa ou os legumes se nós próprios não os comemos.
No que diz respeito aos castigos: deve ter-se em conta que estes nunca podem envolver uma privação de necessidades básicas (Ex.: comida, sono,…) ou de amor, mas sim de retirada do lazer (Ex.: tv, computador, brinquedos…). Há duas coisas que a criança tem de perceber: que é o seu comportamento que está a ser punido e não ela própria e o que pode fazer para o alterar, devendo o castigo ser imediato ao comportamento indesejado. A criança deve ter segurança de que é amada mesmo quando castigada, por isso é possível explicar-lhe isso: “Eu gosto muito de ti, mas, combinamos que se não comesses a sopa não irias ver televisão hoje, por isso vais ter de cumprir o acordo”. Ter em atenção que as ameaças não resolvem o problema, e só criam tensão e conflito na relação é meio caminho andado para a gestão da relação e da imposição de regras.
Tal como foi referido no início, não existem pais perfeitos, nem existe uma fórmula mágica para uma educação sem falhas. Todas as decisões têm de ser tomadas tendo em conta as diferentes características da família e de cada um dos elementos. Existem sim, algumas estratégias que podem auxiliar à função de educador, no entanto, é importante nunca esquecer que a palavra mágica é: flexibilidade, na medida certa.