Por vezes deparamo-nos com crianças agarradas às pernas dos pais, escondendo a cara enquanto são bombardeadas por estímulos e questões: “Olá bebé”, “então não me dás um beijinho”, “dá lá um beijinho”, “ai, tão envergonhada/o…”, “dá um beijinho”,…
Há crianças que simplesmente não interagem com ninguém para além do núcleo familiar mais próximo, demonstram incapacidade de falar em situações sociais especificas em que se espera que falem apesar de o fazer noutras situações. Tal reação tende a interferir com outros contextos: por exemplo o rendimento escolar (pelo facto de não responder à professora, tornando difícil avaliar as suas capacidades, ou não conversar ou brincar com os colegas).
Quando estes comportamentos se tornam um padrão e duram há mais de 1 mês será uma indicação de que se deve procurar ajuda profissional na área da Psicologia.
Estas crianças não iniciam o discurso ou não respondem quando lhes falam em situações sociais, sejam elas com adultos ou outras crianças. Contudo Falam nas suas casas na presença de membros da família mais próxima. É possível verificar a existência de uma marcada ansiedade, podendo interferir na sua aptidão de criar amizades e de se desenvolver a nível social.
Que comportamentos podemos observar nessas situações? Alterações corporais, tais como, o aumento da sudação, da rigidez muscular, da frequência respiratória e cardíaca. Após a situação, podem surgir as dores de cabeça, de barriga, vontade de ir várias vezes à casa de banho. Por outro lado, alterações comportamentais, como roer as unhas, cobrir/esconder a cara, levar o vestuário à boca, balançar as pernas ou o corpo, tiques, entre outras.
Porque surge?
A aprendizagem deste medo desproporcionado de falar nas crianças, tem em muito a ver com o comportamento dos adultos que as rodeiam. Temos de perceber que os filhos utilizam os pais para aprender sobre o mundo, sendo que desde os primeiros meses, aos serem confrontados com situações novas eles tendem a olhar para a reação dos seus pais para terem uma referência de como agir. Por isso mesmo, pais ansiosos ou tímidos que evitem situações sociais, ensinam aos seus filhos, inconscientemente, que é a forma certa de agir.
Por outro lado, as elevadas expectativas em relação às crianças, a punição, as correções de todas as suas falhas podem contribuir para o desenvolvimento de ansiedade e falta de confiança o que leva ao surgimento deste problema psicológico.
Aos pais sugere-se:
-Estimular a comunicação, principalmente nos primeiros anos de vida, ensinando a criança a expressar-se nas diferentes situações sociais;
-Dar responsabilidade: ao vestir-se, lavar os dentes, por a mesa, arrumar o quarto,…, reforçando sempre o bom desempenho;
-Evitar a critica: “não tens vergonha?”, “és sempre o mesmo”, “nunca falas”;
-Evitar falar deste problema à frente da criança;
-Não castigar, nem obrigar a criança a falar quando esta se recusa, nem a cumprimentar quando ela não quer;
-Não permitir que comunique sussurrando ao ouvido;
-Ser paciente e quando o seu filho falar, não termine as suas frases, de modo a evitar uma excessiva dependência;
-Transmitir sempre tranquilidade e segurança, mas não a superproteger.
É importante perceber que este medo não é só um capricho da criança e que é causador de um grande sofrimento emocional e pessoal e por isso mesmo, perceber que estas crianças necessitam de ajuda especializada para reverter esta forma de resposta para que o silêncio, a ansiedade e falta de confiança não prejudiquem o seu bom desenvolvimento.